Porque não se privar do sonho?

A insônia é uma doença. Mas dormir pouco, para muita gente, é uma opção. Opção que, segundo inúmeras pesquisas, causa um verdadeiro descompasso no organismo


Quando o computador invadiu os escritórios, no começo da década de 1980, quase todo mundo esperava realizar as tarefas profissionais rapidamente e, então, aproveitar o tempo de sobra para relaxar, ficar com os familiares, visitar os amigos. Mas aconteceu exatamente o contrário. A chegada das máquinas pessoais — e, depois, a popularização da internet — aumentou bastante a carga de trabalho. E os momentos destinados a atividades como ler um romance, ver TV e praticar um esporte invadiram a noite. “Quem saiu perdendo foi o sono, sempre deixado em segundo plano”, observa o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, diretor do Laboratório do Sono do Instituto do Coração de São Paulo. Isso é compreensível, afinal ninguém quer abrir mão das horas de diversão. Mas essa mudança de rotina é uma bomba-relógio para a saúde. “Estudos epidemiológicos provam que quem dorme pouco vive menos”, ressalta Dalva Poyares, neurologista do Instituto do Sono, em São Paulo. Justificativas para isso não faltam — você verá nove delas nas próximas páginas. A boa-nova é que, com certas atitudes (veja quais a partir da página 37), dá para garantir um tempo mínimo embaixo dos lençóis e, assim, aproveitar a vida por anos a fio.

1. ALTERAÇÕES GENÉTICAS
Quem deixa de pregar os olhos para ver aquele filme imperdível noite adentro pode mexer com uma das estruturas mais importantes do corpo: o DNA. “Essa privação aparentemente deixa a molécula mais frágil e suscetível a mutações”, explica a geneticista Camila Guindalini, do Instituto do Sono. E esse é o primeiro passo para o aparecimento de variados problemas, entre eles o câncer. O que mais surpreende os cientistas, entretanto, é que fi car poucas horas na cama altera nossa carga genética. “Restringimos o sono de animais só por quatro dias e percebemos que alguns de seus genes estavam mais ativos”, revela Camila. Os cientistas acreditam que essa seria a conexão entre dormir pouco e o desequilíbrio de várias funções corporais.

2. PROBLEMAS SEXUAIS
A biomédica Monica Andersen, da Universidade Federal de São Paulo, reduziu o horário de descanso de ratos machos por alguns dias. Em seguida, analisou o comportamento dos roedores com suas parceiras. “Apesar de terem desejo, os bichos não conseguiam fazer a penetração”, relata a pesquisadora. Agora, será que essa afirmação também vale para seres humanos? A resposta, infelizmente, é sim. Homens que têm como hábito trocar o travesseiro pela leitura ou por um bate-papo na internet, só para citar exemplos corriqueiros, têm um risco três vezes maior de sofrer com disfunção erétil. “Um dos motivos é a diminuição dos índices de testosterona”, esclarece Monica. “O surpreendente é que as taxas do hormônio sexual masculino só voltam ao normal sete dias após a noite maldormida”, acrescenta.

3. MAIS DOR
Quem consome boa parte do período noturno em claro pode ficar extremamente sensível a toques, esbarrões e qualquer pequeno machucado. Também é comum os notívagos sentirem o corpo todo dolorido, como se tivessem exagerado na academia. “Durante o repouso, o cérebro secreta substâncias como serotonina, dopamina e endorfina”, ensina Páblius Staduto Braga, reumatologista do Hospital Nove de Julho, na capital paulista. “Níveis baixos dessas substâncias relaxantes estão associados a respostas dolorosas”, complementa. O problema é que, às vezes, esse baita incômodo gera insônia, além de prejudicar a qualidade das poucas horas dormidas. “Cria-se um ciclo vicioso difícil de ser quebrado, especialmente em casos de fibromialgia. Aí, muitas vezes temos que lançar mão de medicamentos”, avalia Staduto Braga.

FIBROMIALGIA 
Essa doença se caracteriza por dores contínuas e generalizadas. Não se sabe exatamente o que a desencadeia, mas — adivinhe! — um dos possíveis fatores de risco é manter os olhos arregalados quando eles deveriam estar fechados. “Por outro lado, o próprio distúrbio altera o padrão do sono, fazendo com que a pessoa já acorde cansada”, diz Staduto Braga. Sem contar que a fibromialgia facilita o surgimento de transtornos psiquiátricos relacionados a dificuldades para adormecer. Um exemplo é a depressão.
Fonte: Abril

Reflexão

                              Eu sei que diante das tempestades é quase impossível acreditar e enxergar a luz do fim do túnel. Eu sei que...